A freguesia de Matança conta com 215 habitantes e dista cerca de 8 quilómetros da sede do concelho. Da freguesia fazem também parte os lugares de Fonte Fria e Forcadas.
A sua padroeira é Santa Maria Madalena, contudo as maiores festividades religiosas acontecem em honra de Nossa Senhora dos Milagres e em honra de Santa Eufémia.
Atravessando as duas pontes medievais, sobre o rio Carapito e a ribeira das Forcadas, percebe-se como a morfologia da Matança e o seu modo de vida foram moldados pela presença da água.
Os vestígios romanos e, principalmente, os medievais atestam a antiguidade deste lugar, cuja primeira referência documental data dos inícios do século XII.
Em 1258 este reguengo do rei detinha já o estatuto de vila, que manteve até à extinção dos antigos concelhos em 1836.
D. Afonso III concedeu-lhe foral em 31 de janeiro de 1270, confirmado por D. Manuel I em 17 de julho de 1514, período da implantação do pelourinho, um dos seis existentes no concelho.
Os lugares de Fonte Fria e Forcadas são parte integrante da freguesia, provavelmente desenvolvidas a partir de quintas agrícolas e que hoje se encontram preservadas no tempo. É em Forcadas que encontramos uma das duas necrópoles do concelho – um afloramento com 24 sepulturas escavadas na rocha, que continuam a intrigar os historiadores e arqueólogos.
Com uma história milenar, reza a tradição que o próprio topónimo advém de uma sangrenta batalha que aqui terá ocorrido entre romanos e bárbaros ou entre cristãos e muçulmanos. Atualmente, a teoria mais aceite reporta o topónimo Matança para a derivação de “mato”, distinção deste território coberto por abundantes matagais, e comprovada pela existência nas redondezas, da serra dos Matos e da freguesia de Matela já pertencente ao concelho de Penalva do Castelo.
MATANÇA
Situado na antiga praça do concelho, o pelourinho de Matança é o testemunho administrativo deste antiquíssimo concelho extinto em 1836.
A data da sua implantação remonta à época em que D. Manuel I concedeu foral novo à vila de Matança, em 17 de julho de 1514.
Assente em três degraus octogonais, o seu fuste é oitavado e sem capitel, sobre o qual repousa a base tronco-piramidal da “gaiola” rematada por cúpula piramidal. O aspeto de bloco maciço e forte, com um lanternim fechado ao alto, vazado nas faces de frestas semi-oblongas, assemelha-se a uma torre de vigia de fortaleza medieval.
Classificado como IIP – Imóvel de Interesse Público, desde 1933.
Junto ao pelourinho existia a Casa da Câmara e a Cadeia, vendidos após a extinção do concelho, em 1862 e 1868 respetivamente. 
 
pelourinho
Com data de fundação provável a remeter para a própria criação da paróquia entre os séculos X e XIII, encontramos a Igreja de Santa Maria Madalena à entrada da aldeia. Do primitivo templo permanecem os cachorros da parede da capela-mor e algumas marcas de canteiro. A sua grande campanha de reformulação ocorreu já no último quartel do século XIX.
Na fachada vemos um portal de volta perfeita, encimado por um óculo e remate em frontão triangular, interrompido pelo campanário do lado direito.
No interior, encontramos dois altares colaterais datados do século XVIII, dispostos em ângulo. O altar do lado do Evangelho é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, ladeado por Santa Eufémia e Nossa Senhora da Conceição encimado por pintura com o tema da Anunciação. No lado da Epístola, o altar é dedicado a Nossa Senhora de Fátima, ladeada por São Francisco Xavier e Santo António, encimado com pintura de Deus Pai.
No retábulo da capela-mor podemos admirar a imagem de Santa Maria Madalena no trono, com o atributo do vaso de perfumes, representação iconográfica repetida numa pintura em tábuas do lado esquerdo do retábulo.
As pinturas de São Pedro com as chaves, São João Evangelista com a águia e São Paulo com a espada, completam o conjunto pictórico do retábulo. No sacrário, repete-se o programa iconográfico de São Pedro e São Paulo.
Até à grande campanha de reformulação da igreja, a povoação tinha muita devoção em Santa Tecla, padroeira dos agonizantes, cuja imagem fazia parte de um dos retábulos colaterais.
 
igreja matriz
A Capela de Nossa Senhora dos Milagres localiza-se junto à ponte que atravessa o rio Carapito. A sua primeira referência documental surge apenas nas Memórias Paroquiais de 1758, desconhecendo-se assim a data de instituição desta capela.
O pequeno templo, de uma só nave, possui um alpendre incorporado na fachada já no último quartel do século XX.
Alguns estudos indicam que o orago desta capela seria, originalmente, Nossa Senhora da Pomba embora não existam registos que o comprovem. A invocação da capela terá sido substituída para Nossa Senhora dos Milagres, mas mantendo a imagem primitiva, com a presença de uma pomba junto ao peito de Nossa Senhora.
No interior da capela, encontramos, sobre a mesa de altar, uma pintura sobre tábuas representando a Apresentação de Jesus no Templo.
 
capela milagres
O Dólmen de Corgas de Matança, encontra-se na freguesia que lhe dá o nome, a cerca de 6 km de distância da sede do concelho.
É composto por uma câmara funerária com 3,90m de altura e 4m de largura, com nove esteios, não havendo já evidências do corredor de acesso. Existem ainda motivos gravados em dois dos seus esteios.
Muitos dos materiais recolhidos nas campanhas arqueológicas encontram-se depositados no Museu Nacional de Arqueologia, como pontas de seta, uma conta de colar, fragmentos de cerâmica e até um ídolo em azeviche.
Foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 1961.
 
dolmen
Situada numa ermida do lugar de Fonte Fria, uma lenda sobre uma imagem aparecida entre silvados dá início ao culto a Santa Eufémia, a patrona dos males difíceis e doenças de pele.
Há séculos uma das maiores romarias da região, ainda hoje a tradição se cumpre: a ela recorrem os romeiros, muitas vezes acompanhados pelos seus rebanhos, todos os anos em 16 de Setembro e na segunda-feira a seguir à Páscoa. Em oração, festa e feira – assim é passado o dia na ermida.
O templo sofreu profundas remodelações, mas os cachorros figurativos e geométricos que sustentam a cornija de uma das paredes, bem como algumas marcas de canteiro, remetem a fundação do templo para a época medieval, século XIV provavelmente.
No seu interior, encontramos um pequeno altar-mor com elementos que apontam para várias épocas e reformulações, dedicado a Santa Eufémia, ladeada por São Sebastião e pelo Sagrado Coração de Jesus.
capela santa eufémia
A cerca de 2 quilómetros de Matança, na povoação de Forcadas, encontramos uma das duas necrópoles de sepulturas escavadas na rocha existentes no concelho.
A necrópole das Forcadas, com 24 sepulturas, desenvolve-se em pequenos afloramentos graníticos, a noroeste da povoação. Trata-se de sepulturas de adulto, não antropomórficas, ou seja, sem o contorno do corpo, cabeça e pés, apresentando assim formas mais ovaladas e retangulares.
As sepulturas estão dispostas em vários núcleos, viradas principalmente para Norte e Sul, havendo apenas uma sepultura com orientação Este-Oeste. Esta variação distinta pode indiciar que a orientação das sepulturas terá sido regida pela disposição e inclinação dos próprios afloramentos graníticos, permitindo que o defunto fosse sepultado com a cabeça na parte mais elevada da rocha.
A datação desta necrópole continua por apurar, mas avança-se uma cronologia balizada entre os séculos VI e XIII.
Neste tipo de sepultamento, o corpo era depositado diretamente na rocha, apenas envolto numa mortalha. A sepultura era depois fechada com uma ou várias lajes.
 
necrópole forcadas
A Capela de São Miguel situa-se entre a povoação de Matança e a ermida de Santa Eufémia. O templo primitivo, de origem medieval, terá sido substituído pelo atual em 1794.
Capela de uma só nave, apresenta uma fachada elegante e muito decorada. O portal de arco abatido rematado por frontão interrompido é encimado por janela também de arco abatido. Duas pequenas janelas ladeiam simetricamente o portal. O remate da fachada é feito por uma cornija com linhas côncavas e convexas, decorada com concheados e coroada por fogaréus nas extremidades.
No interior, destaca-se a capela-mor sobrelevada com um retábulo em talha dourada e policromada. Ao centro encontramos a imagem de São Miguel Arcanjo, ladeado por São José e São João Batista.
 
capela são Miguel
Água do rio, um rodízio e uma mó são a base de um dos mais antigos e criativos engenhos do Homem, o moinho. Difundido pelos romanos, o moinho é o exemplo perfeito do aproveitamento de um recurso natural para colmatar as necessidades de alimentação e sustento, utilizando-se a energia da movimentação das águas para moer cereais, transformando grãos em farinha.
O rodízio, roda de palhetas de madeira, girava na horizontal por meio da força das águas até si canalizadas, fazendo rodar um eixo ligado à mó. Os grãos de cereais, colocados na moega, um reservatório em madeira, iam depois caindo no olho da mó e moídos até serem farinha.  
Este engenho, situado junto a rios e ribeiras, era abrigado por estruturas de construção em pedra granítica com telhado. Existiam dois tipos de moinhos de rodízio: uns eram acionados pelas fortes levadas tiradas da corrente principal dos rios e canalizadas até ao rodízio; outros aproveitavam pequenos cursos de água, que era desviada e represada para garantir a força necessária à movimentação do engenho.
A proximidade ao rio Carapito e à ribeira de Forcadas, permitiu a implantação de muitos moinhos em Matança, havendo registo de moleiros já no século XVI. Em meados do século XIX, quase um quarto dos habitantes viviam da profissão, partilhada por homens e mulheres. Bernardino Mono, o último moleiro, fez rodar a mó até finais do século XX.
Em 2015 procedeu-se à musealização de um destes moinhos que é possível visitar com marcações geridas pela Junta de Freguesia. Podemos também observar os vestígios dos antigos moinhos e as suas levadas, junto à ponte medieval sobre o Rio Carapito.
 
antigo moinho
As fontes de mergulho, muito utilizadas na época medieval, eram construídas abaixo do nível do chão e constituídas por um tanque coberto por uma cúpula. Para se retirar água era necessário mergulhar o cântaro dentro do tanque, daí o nome de fonte de mergulho. Como serviam muitas vezes para bebedouro dos animais, foram consideradas uma ameaça para a saúde pública sendo substituídas por fontes de bica.
Datada dos séculos XIV/XV, a fonte medieval de Matança está situada na Rua da Fonte, origem provável desta toponímia. Composta por estrutura de planta quadrangular, com cobertura plana, apresenta uma abertura em arco de volta perfeita ligeiramente apontado, correspondendo à abóbada de berço interior.
 
fonte medieval
Embora sejam apontadas como romanas, as atuais pontes de granito sobre a ribeira das Forcadas e o rio Carapito são efetivamente medievais, cujo período de construção será o mesmo, situado entre os séculos XIII e XIV. Contudo, este facto não exclui a possibilidade de ambas terem sido a evolução de estruturas construídas na época romana – um troço de calçada junto à ponte sobre o rio Carapito e o talhamento de algumas pedras assim parecem indicar.
A ponte sobre a ribeira das Forcadas apresenta um tabuleiro de perfil em cavalete, assente num único arco de volta perfeita e com guardas de segurança no passadiço.
A ponte sobre o rio Carapito, com tabuleiro também em cavalete, apresenta atualmente um perfil plano assente em dois arcos de volta perfeita.
 
pontes medievais