Vila Ruiva dista cerca de 10 quilómetros da sede de concelho. Freguesia extinta em 2013, faz atualmente parte da União de Freguesias de Juncais, Vila Ruiva e Vila Soeiro do Chão, com 553 habitantes.
Manteve-se incluída no termo do antigo concelho de Linhares até à extinção deste em 1855, e após pertencer ao concelho de Celorico da Beira e depois Gouveia, passa finalmente a integrar o concelho de Fornos de Algodres, por decreto de 1898.
Quanto às suas origens, a parca referência documental é suplantada pelos testemunhos da existência de vestígios arqueológicos da época romana, muitos deles perdidos no tempo. É em Vila Ruiva que encontramos uma das duas necrópoles de sepulturas medievais do concelho, que atestam a presença de uma comunidade na Alta Idade Média.
Nos inícios do século XIX, a passagem das tropas francesas da terceira invasão deixou um rasto de destruição e roubos, tendo a população encontrado refúgio nas várias grutas existentes nos arredores da aldeia.
Com Nossa Senhora da Graça como padroeira, Vila Ruiva foi durante séculos parte integrante do Bispado de Coimbra, curado anexo a Mesquitela, motivo pelo qual integra, atualmente, o arciprestado de Gouveia, diocese da Guarda, ao contrário das aldeias do concelho da margem direita do rio.
VILA RUIVA
Datada do século XVIII, a atual Igreja de Nossa Senhora da Graça será, provavelmente, o resultado de reformulações de um antigo templo. Em 1811, a passagem das tropas francesas por Vila Ruiva causou a destruição dos seus altares de boa talha.
A fachada apresenta portal central em arco abatido decorado e rematado por volutas laterais. Sobre o portal, existe um janelão com motivo concheado, sendo o conjunto rematado por frontão recortado e decorado com concheado. Possui campanário de uma ventana no lado direito, ligeiramente recuado da restante fachada.
No seu interior, descobrimos retábulos policromados com talha dourada e uma técnica muito usada após o terramoto de 1755, pintura de padrões de marmoreado por conta da crise que se sucedeu ao terrível desastre natural.
No teto da capela-mor podemos admirar uma pintura com a representação do tetramorfo dos quatro evangelistas: São Marcos com o leão, São Mateus com o anjo, São João com a águia e São Lucas com o touro.
 No retábulo-mor, encontramos Nossa Senhora da Graça, ladeada por Santo António e São João Batista.
 
igreja matriz
A necrópole da Tapada do Anjo, com 22 sepulturas escavadas na rocha, desenvolve-se de forma dispersa em torno da capela do Arcanjo São Gabriel. Encontramos dois tipos de sepulturas, as mais antigas com formato ovalado ou retangular e as mais recentes apresentam já o contorno do corpo, cabeça e pés – as chamadas antropomórficas. Neste tipo de sepultamento, o corpo era depositado diretamente na rocha, apenas envolto numa mortalha. A sepultura era depois fechada com uma ou várias lajes.
As sepulturas mais antigas encontram-se perto da capela e as outras mais longe, remetendo a utilização do local para um período mais alargado no tempo.
Verifica-se a existência de quatro núcleos, agrupando sepulturas de adultos com crianças, evidenciando laços familiares.
Uma das sepulturas foi posteriormente reaproveitada como lagariça, tendo sido aberto um canal lateral de escoamento, prática comum na Idade Média.
 
necrópole tapada do anjo
A Capela do Anjo é dedicada ao Arcanjo São Gabriel e situa-se numa Tapada em direção à freguesia de Carrapichana, junto à necrópole de sepulturas escavadas na rocha.
A tradição, os testemunhos e as lendas associadas a este lugar perduram na memória dos habitantes. Reza a história que os habitantes da aldeia foram atemorizados por um lagarto gigantesco, refugiando-se na Tapada do Anjo. Nas suas orações pediram ajuda ao Arcanjo São Gabriel, e foram atendidos nas suas preces. A sua devoção para com este Anjo salvou-os de tamanho perigo, e assim como forma de agradecimento construíram uma Capela em sua honra.
Desconhece-se a data de fundação do primitivo templo que, na primeira metade do século XX, se encontrava em ruínas e já sem altar. Contudo, não podemos deixar de evidenciar a sua relação espacial com a necrópole e a possibilidade de datação simultânea aos sepultamentos.
A Capela do Anjo foi totalmente reconstruída e benzida a 29 de setembro de 1968, apresentando, atualmente, uma arquitetura contemporânea. Rebocada e pintada de branco, a fachada possui portal de arco perfeito, ladeado por duas estreitas frestas, e um campanário no lado direito, ligeiramente recuado da fachada.
capela do anjo
Esta capela situa-se no Largo de Santo António, cercada por um bonito jardim.
Segundo as Memórias Paroquiais de 1758, um inquérito realizado em todas as paróquias de Portugal após o grande terramoto de 1755 e a mando de Marquês de Pombal, existia já em Vila Ruiva uma Irmandade de Santo António e uma Ermida de invocação ao Santo português.
É provável que a atual capela seja já o resultado de campanhas de reconstrução levadas a cabo durante os finais do século XIX e a primeira metade do século XX.
Templo de reduzidas dimensões em cantaria, possui fachada com portal de arco de volta perfeita encimado por óculo e representação do orago em azulejo.
No seu interior encontramos um pequeno retábulo em madeira com a imagem de Santo António, por quem a população tem muita devoção.
 
capela santo António
As fontes de mergulho, muito utilizadas na época medieval, eram construídas abaixo do nível do chão e constituídas por um tanque coberto por uma cúpula. Para se retirar água era necessário mergulhar o cântaro dentro do tanque, daí o nome de fonte de mergulho. Como serviam muitas vezes para bebedouro dos animais, foram consideradas uma ameaça para a saúde pública sendo substituídas por fontes de bica.
A fonte de mergulho de Vila Ruiva é composta por estrutura de planta quadrangular, com cobertura plana, apresenta uma abertura em arco de volta perfeita ligeiramente apontado, correspondendo à abóbada de berço interior.