A Aldeia de Montanha de Algodres, com 290 habitantes, encontra-se a cerca de 4 quilómetros de distância da sede de concelho. A freguesia é composta por Algodres e pelos lugares de Furtado e Rancozinho.
Tem como padroeira Santa Maria Maior, no entanto a festividade mais representativa é em honra de Nossa Senhora do Campo, a 15 de Agosto.
Localiza-se num planalto de terras muito férteis e irrigáveis conhecidas por alagoas, termo que terá dado origem ao seu topónimo.
O núcleo da aldeia é ocupado a partir da época romana.
Desde o século XII que Algodres surge como vila e cabeça de um vasto território que abraçava nove aldeias, as denominadas Terras de Algodres.
Recebeu carta de foral de D. Dinis em 1311 e novo foral de D. Manuel em 1514.
A partir do século XIV foi alvo de sucessivos legados donatários e na primeira metade do século XVI, o seu senhorio foi concedido a D. António de Noronha, Escrivão dos reis D. Manuel I e D. João III, mais tarde agraciado com o título de Conde de Linhares. Após a Restauração de 1640, o senhorio reverte para a Coroa, tendo sido posteriormente atribuído à Casa do Infantado.
Em Setembro de 1810, as tropas da 3ª Invasão Francesa passaram pelo concelho deixando um enorme rasto de destruição e violência, incluindo homicídios, como no caso da família Osório e Castro.
Foi vila e sede de concelho até à sua extinção, levada a cabo pela reorganização administrativa do reino em 1836.
Algodres
Enquadrado pela Igreja Matriz e pelo Largo da Misericórdia, surge diante dos nossos olhos o mais imponente pelourinho do concelho de Fornos de Algodres e um dos mais notáveis da região.
Provável testemunho da atribuição da Carta de Foral por D. Manuel em 1514, os mais de 5 metros de altura do pelourinho legitimam a sua hegemonia neste território.
Com um fuste de pedra única em granito, assente em cinco degraus, ergue no topo um lanternim, ou gaiola, de oito faces, decorado com colunelos de elegante talha, rematado com acabamento tronco-piramidal. Conserva ainda restos dos “ferros de sujeição” no fuste.
Classificado como IIP – Imóvel de Interesse Público, desde 1993.
Pelourinho
Depois de percorrermos o caminho de acesso até ao Miradouro do Comborço, geossítio do Estrela Geopark Unesco, somos arrebatados pela incrível paisagem que aí encontramos. Avistamos a Serra da Estrela, o Castro de Santiago em Figueiró da Granja, as aldeias de Linhares e Folgosinho e, claro, a encantadora Algodres.
Agora experimente fechar os olhos e respirar fundo.
 
Miradouro Comborço
O portal em arco quebrado, simples e austero, atesta a fundação romano-gótica da Igreja de Santa Maria Maior, a Matriz de todas as igrejas e capelas do antigo termo de Algodres, que pertenceu à Comenda da Ordem de Cristo. Testemunho da sua importância e influência, é a presença, na coluna do lado direito do portal, das medievais unidades de medida – a vara e o côvado.
Com fundação primitiva provavelmente datada do século XII, é reconstruída nos séculos XVII e XVIII, tendo a última intervenção decorrido já no presente século.
A fachada em cantaria de granito, remata a meia empena com campanário triplo à esquerda. Na fachada posterior encontramos a misteriosa e simpática figura medieval esculpida a quem a população chama carinhosamente de “o Algodres”, o fundador da aldeia.
No seu interior, podemos admirar 28 caixotões pintados no tecto da capela-mor, com pinturas do século XVIII, representando os apóstolos e santos.
No retábulo-mor barroco, em talha dourada e policromada de vermelho, encontramos duas tábuas pintadas representando São Pedro e o Batismo de Cristo a ladear a imagem de Santa Maria Maior ou Nossa Senhora da Assunção.
Os retábulos colaterais, de estrutura maneirista, datam de finais do século XVII e são dedicados ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora do Rosário. Os frontais dos retábulos são decorados por azulejos hispano-árabes seiscentistas, em técnica de aresta, postos a descoberto apenas na década de 80 do século passado.
No oratório lateral dedicado a Nossa Senhora da Piedade, descobrimos uma imagem de São Mamede, o patrono do gado e invocado nas causas do leite.
Na sacristia existe ainda um apostolado completo, pintado provavelmente por um artista local.
Igreja Matriz
Entre o cruzeiro e a Igreja Matriz encontramos a Igreja da Misericórdia.
A sua Irmandade é instituída em 1621, mas o seu edifício data já do século XVIII. A tradição conta que foi construído no lugar de um antigo castelo, cujas pedras foram reaproveitadas para a implantação do templo religioso.
A fachada branca e elegante destaca-se na paisagem granítica. A ladear o pano principal da fachada, vemos um campanário de duas ventanas à direita e, do lado esquerdo, além da Casa do Despacho, encontramos a Varanda de Pilatos, elemento comum a outras igrejas da Misericórdia, onde era exposta a imagem do Senhor da cana verde, o “Ecce Homo”, durante a Procissão da Paixão de Cristo, na Semana Santa.
No interior, destaca-se o retábulo-mor joanino, contemporâneo da edificação do templo. Os retábulos laterais, já de finais do século XVIII, são dedicados a Nossa Senhora das Dores e ao Senhor da Cana Verde.
Duas peças magníficas captam a nossa atenção. Na urna do retábulo-mor, descansa o Senhor da Boa Cama, um Cristo articulado, muito bem talhado, que outrora era exposto num esquifo em frente ao altar, também durante a Semana Santa. Depois um tríptico pintado sobre madeira, representando a Senhora da Misericórdia ao centro, ladeada pelas representações da Visitação e Anunciação, com a Última Ceia na predela e Deus Pai no topo. Segundo o historiador José Hermano Saraiva, na cena central junto à Senhora da Misericórdia, estarão representados D. Francisco de Noronha, segundo Conde de Linhares e D. Violante de Andrade, eterno amor de Luís de Camões.
Igreja Misericórdia
O aspecto singelo, em granito aparente, da Capela de Nossa Senhora do Campo não transmite a importância e a devoção que o povo de Algodres lhe dedica – as festas em sua honra são as mais marcantes da aldeia.
Instituída por António Nunes e sua esposa Bárbara de Albuquerque, esta capela particular e vinculada, recebeu a bênção em 1722.
A sua fachada, virada a Sul sustenta uma cruz latina com as hastes flor-de-lisadas.
No interior, destacamos o retábulo em talha dourada com dois “putti” a ladear a imagem de Nossa senhora do Campo.
Capela Senhora do Campo
Situada à entrada da aldeia, num enorme adro frondoso, encontramos a Capela de Nossa Senhora das Dores.
Terá sido construída entre o século XVI e XVII e era dedicada a Nossa Senhora do Pé da Cruz no século XVIII.
Acedemos à capela por escadaria de cantaria. Destaca-se o alpendre aberto na fachada principal. O seu interior possui um retábulo neoclássico de talha policromada.
No adro, foi construído um Calvário, já no século XX, cujo esquema invulgar ostenta três cruzes individualizadas.
Encontramos também próximo da Capela, um dos muitos nichos do Senhor dos Passos espalhados pela povoação, representando os vários Passos que compunham as estações de paragem durante a procissão da Paixão na Semana Santa. Neles, eram integradas as tábuas pintadas com as cenas da Paixão de Cristo, atualmente expostas no interior da Igreja da Misericórdia.
Capela Dores
No lugar de Furtado, encontramos um dos mais interessantes templos do concelho.
A Capela de São Clemente evidencia a probabilidade da existência de uma comunidade judaica neste lugar. Além de apontamentos espalhados pelas casas em ruínas e no próprio templo que nos remetem para a arquitetura hebraica, como o portal com pedra chanfrada a 45 graus, é o próprio orago que nos desperta a atenção. São Clemente foi Papa e mártir, e terá sido convertido do Judaísmo ao Cristianismo por S. Pedro. Exilado e perseguido, foi por fim martirizado – lançado ao Mar Negro com uma âncora atada ao pescoço. A âncora está presente, como atributo, na imagem do altar da Capela.
No interior da Capela, descobrimos também uma ara romana, bem preservada, a servir de suporte à imagem de Nossa Senhora de Fátima.
Capela São Clemente
No lugar de Rancozinho, encontramos a Capela de Santo Elói. Com datação incerta, sofreu reformulações em tempos recentes. Sobressai a rematar a fachada principal uma cruz trilobada e o campanário no lado esquerdo, fruto da última intervenção.
No seu interior, encontramos um retábulo em talha policromada, com colunas salomónicas. Podemos admirar duas tábuas pintadas com São Francisco de Assis e Santo António, a ladear a imagem de Santo Elói ao centro, que surge representado com a mitra e o báculo, insígnias episcopais.
Santo Elói, ou Eloy de Noyon nasceu em França por volta de 590, foi ferrador e ourives e fundou, mais tarde, o Mosteiro de Solignac, próximo de Limoges. Morreu bispo de Noyon em 659.
Capela Santo Elói